terça-feira, 26 de julho de 2011

Discos Pessoais: Jamiroquai -The Return Of The Space Cowboy (1994)



Falar de Jamiroquai pra mim talvez seja a coisa mais fácil. Não só por se tratar da minha banda favorita, mas também por ter sido a banda que fez mudar completamente a minha forma de tocar contrabaixo. Eu tinha 17 anos e até então estava viciado em bandas de Heavy Metal onde o baixo basicamente acompanhava o bumbo duplo do baterista. Quando um amigo me apresentou "Emergency On Planet Earth", o primeiro disco da banda. Aquilo simplesmente era um espanto para um garoto até então viciado em Heavy Metal. Aquele baixista não usava o contrabaixo como uma metralhadora pra acompanhar a bateria. Eu sentia como se cada nota tivesse uma razão para estar ali, aquele som grave cheio de balanço foi me contagiando, tanto que esse amigo nunca mais viu o CD que ele havia me emprestado. O nome daquele Baixista? Simplesmente o cara que eu mais venero musicalmente falando. O Eddie Van Hallen do Contrabaixo: Stuart Zender. Desde então busquei outras coisas da banda e daquilo que eu descobri mais tarde ser um estilo chamado de Acid-Jazz.

O nome Jamiroquai é derivado do nome da tribo Iroquoi de nativos norte-americanos, com os quais Jay Kay diz se identificar filosoficamente, combinado à expressão 'Jam', como em Jam session, do idioma inglês
Jamiroquai é uma banda britânica de jazz funk e acid jazz liderada pelo cantor Jay Kay. A banda é popular no mundo todo e é o membro mais conhecido do cenário acid jazz, movimento londrino do início dos anos 90, junto a outros grupos como Incognito, Brand New Heavies, Galliano, e Corduroy. Jamiroquai vendeu mais de 35 milhões de álbuns no mundo inteiro e ganhou um Grammy em 1997.

The Return Of The Space Cowboy é um disco cheio de comentários mordazes sobre as práticas de uma sociedade conservadora. O impacto deste disco ficou restrito ao reino unido. Somente no Disco seguinte, a banda ganharia notoriedade mundial com "Travelling Without a Moving". A banda na época costumava em suas apresentações durante a execução da música "Space Cownboy" acender um cigarro de maconha e todos em uma espécie de ritual fumarem tudo até a última ponta (Qualquer semelhança com o Planet Hemp é bem atribuída a este fato). Seguem as Faixas do álbum:
  1. "Just Another Story"
  2. "Stillness in Time"
  3. "Half the Man"
  4. "Light Years"
  5. "Manifest Destiny"
  6. "Kids"
  7. "Mr. Moon"
  8. "Scam"
  9. "Journey to Arnhemland" (instrumental)
  10. "Morning Glory"
  11. "Space Cowboy"

    De todas as faixas, destaco "Just Another Story",  "Light Years", "Manifest Destiny", "Kids", "Mr. Moon", "Scam" e a clássica "Space Cowboy". Aprendi a tocar todas essas músicas no Contrabaixo e lembro o quanto foi difícil naquela época migrar de um genero mais 'reto' musicalmente para uma coisa mais swingada. Em um nível de dificuldade "Light Years" e "Mr.Moon" são as mais complexas musicalmente falando, Porém, o disco não é nada complexo e tem pra mim o Groove mais legal do Jamiroquai, que é o de "Manifest Destiny". The Return Of The Space Cowboy é um disco que tem que ser apreciado como um bom vinho, devagar e percebendo cada detalhe e sutileza sonora.

    Agora algumas músicas obrigatórias:

    1 -Virtual Insanity - Presente no Album "Travelling Without a Moving". É a música mais famosa da Banda. Falando dos perigos e ameaças presentes na engenharia genética.
2 - When You Gonna Learn - Presente no primeiro álbum da banda "Emergency On Planet Earth". Musica bem dançante, mas com o conteudo político que fala sobre a intolerância entre os povos.


3 - Main Vein - Do disco "Funk Odyssey". Marca a mudança da Banda. Após a saída de Zender, as músicas começam a falar das relações pessoais. Daqui pra frente o conteúdo político e filosófico vai ser deixado um pouco de lado por Jay Kay.


4 - Love Foolosophy - Também de "Funk Odyssey". É uma espécie de "Exagerado" do Cazuza da banda. Onde Jay Kay mostra literalmente esse lado exagerado de uma relação amorosa.


5 - Black Capricorn Day - Presente em "Synkronized". É o primeiro disco sem Stuart Zender no baixo. Existe a lenda de que o disco foi composto em "homenagem" a Zender, por Jay Kay chamá-lo de mesquinho. Tanto que a última música do disco "King For a Day" é essa "homenagem" de uma forma explícita. Black Capricorn Day fala da mesquinharia das pessoas diante da correria cotidiana.


Espero que tenham gostado. No próximo post ainda vou continuar na vibe Black-soul. Até a próxima.

sábado, 2 de abril de 2011

Discos Pessoais: Rush - Hemispheres (1978)

Após um recesso forçado. Tô voltando a postar aqui só pra vocês não acharem que eu larguei de mão. A ideia agora vai ficar um pouco diferente. Quero postar uma sequência de discos que foram vitais para a minha formação musical como baixista (sim, eu preciso tocar nesse assunto). É uma questão de ego retraída por algum tempo. 

Pra começar com a história toda, eu tenho uma lista de Baixistas e Bandas que me guiam filosoficamente ou musicalmente falando. Hoje vou apresentar para vocês o Rush. Uma Banda que me guia nos dois aspectos citados anteriormente. Falar desse Trio Canadense, talvez seja chover no molhado e exatamente para me desviar do senso comum das pessoas que gostam de música como um todo, vou contar um pouco da história deles, postar um disco e mais cinco vídeos com músicas obrigatórias do Rush. 

Formado em finais da década de 1960, mais precisamente em 1968. Inicialmente era formado por Jeff Jones (Baixo e Vocal), Alex Lifeson (Guitarra) e John Rutsey (Bateria). Ainda em 1968, Geddy Lee (Baixo , Teclado e vocal) assume o lugar de Jeff Jones e a banda começa a compor seu trabalho autoral. Devo confessar que sou um fã confesso do Geddy Lee. A sua voz não é lá das mais belas de serem ouvidas, mas seu talento com os baixo sempre me chamou a atenção e o fato dele programar linhas de teclado ao mesmo tempo em que toca o contrabaixo. Eu devia ter uns 11 anos quando olhei pra ele tocando e fiquei maluco. Sting (Baixista e vocalista do The Police) e John Paul Jones (Baixista do Led Zeppelin) me mostraram como um baixista cria linhas consistentes. Quando eu penso no Geddy Lee, penso que ele me mostrou como ser consistente e rápido, além de fazer linhas extremamente complexas com o baixo e cantar ao mesmo tempo. 

Em 1974 Rutsey saiu da banda antes de começarem a primeira turnê. Foi o momento mais importante para o rush, pois com a entrada de Neil Peart as letras e sessões ritmicas foram valorizadas. Neil começa a escrever as letras que vão ser emblemáticas para a banda. Neil é um excelente letrista. Ele consegue sintetizar seu lado sensível diante do mundo em que vive, tanto em letras que falam da sua personalidade (Ouça Limelight: Neil explica nessa música o quanto a fama lhe deixa incomodado). Subdivisions, que é outro clássico da banda, fala da forma em que você condiciona seu comportamento para ser incluído em algum grupo social (Neil era um nerd no total conceito do que a palavra pode ser entendida).

Para ter uma ideia de como Neil é um compositor versátil, no Álbum 2112 é dedicado ao livro: "A nascente" de Ayn Rand. Uma filósofa Liberal do século XX. Além da década de 80 Neil escrever composições de natureza política, criticando a guerra de um modo geral (Dois terços dos membros tem alguma ligação com os fatos ocorridos na segunda guerra mundial, Geddy Lee e Alex Lifeson são filhos de refugiados dos conflitos ocorridos na Europa). Composições como: War Paint, Red Sector A, Manhattan Project são reflexos de como isso incomoda de certa forma os integrantes da banda. Essas canções foram lançadas como forma de protesto durante a Guerra Fria. Quando ouvi 2112 ficava curioso para saber do que se tratava o livro de Ayn Rand. Confesso que não é um livro fácil de ser lido e que não sei se leria novamente.

O disco que vou falar hoje especificamente é o Hemispheres de 1978 - Tenho ele em vinil aqui em casa só para desespero dos xiitas por Rush. Na ordem discográfica do Rush, Hemispheres vem logo em seguida a  "A Farewell to Kings" de 1977. Hemispheres marca o fim das longas suítes na carreira do Rush. Daqui pra frente haverá uma abordagem sonora bem nos moldes da New wave ou Sinthpop, não havendo nenhuma perda na complexidade das músicas. As músicas serão apenas mais objetivas e com abordagem menos "experimental" e mais pop.

Hemispheres é um disco simples de ser falado. Tem "apenas" quatro faixas (Aviso logo que se você não tem paciência para músicas longas e com grandes trechos instrumentais nem tente ouvir a primeira e a última faixa). É preciso ter paciência para entender o que tá acontecendo no disco que eu vou enumerar as faixas a seguir: 

01 - Cygnus X-1 Book II: Hemispheres (18:05)
  • I. "Prelude" - 4:27
  • II. "Apollo: Bringer of Wisdom" - 2:36
  • III. "Dionysus: Bringer of Love" - 2:00
  • IV. "Armageddon: The Battle of Heart and Mind" - 2:55
  • V. "Cygnus: Bringer of Balance" - 5:01
  • VI. "The Sphere: A Kind of Dream" - 1:02
02 - Circumstances (03:41)
03 - The Trees (04:46)
04 - "La Villa Strangiato (An Exercise In Self-Indulgence)" - 9:36
  • I. "Buenos Nochas, Mein Froinds!" - 0:27
  • II. "To sleep, perchance to dream..." - 1:33
  • III. "Strangiato Theme" - 1:16
  • IV. "A Lerxst in Wonderland" - 2:27
  • V. "Monsters!" - 0:26
  • VI. "The Ghost of the Aragon" - 0:36
  • VII. "Danforth and Pape" - 1:41
  • VIII. "The Waltz of the Shreves" - 0:26
  • IX. "Never turn your back onMonster!" - 0:11
  • X. "Monsters!" (Reprise) - 0:14
  • XI. "Strangiato Theme" (Reprise) - 1:04
  • XII. "A Farewell to Things" - 0:15

A primeira faixa: Cygnus X-1 Book II é a continuação da última faixa do disco "A Farewell to Kings" (Acho que o Dream Theater faz coisas semelhantes hoje. Fica a dica) A grande sacada dessa faixa é a dicotomia razão e emoção, amor e guerra. Entenda como quiser, mas o fato é que Neil quis deixar claro que como seres humanos a razão vai tentar suplantar as nossas emoções, mas a nossa condição humana não permite que sejamos suplantados pela razão, embora nossas emoções nos levem a comportamento nem sempre explicáveis.

Circumstances, a segunda faixa do disco trata sobre como o comportamento humano diante dos fatos que nos são apresentados e como as nossas reações provocam uma mudança no nosso destino. destino esse que anos mais tarde, Neil Peart vai dizer que não existe nos versos de Roll the Bones.

The Trees é a música que me fez prestar atenção em Geddy Lee no Baixo. na primeira parte instrumental da música, existe um baixo marcante, que assim que eu aprendi a tocar esse mini-solo eu não queria saber de tocar outra coisa. É uma música cheia de metáforas falando da fuga de animais da floresta, que quando eu interpreto ela, entendo como os refugiados da guerra na Europa.

Finalmente, chegamos em "La Villa Strangiato". Eu me orgulho profundamente desssa ter sido a primeira música do Rush que aprendi a tocar no contrabaixo. A música é um tema instrumental bem interessante, cheio de passagens complexas, mudanças para compassos compostos e fraseados de guitarra que vão aumentando conforme a intensidade da música vai pedindo. Sempre fico muito contrariado quando menosprezam Alex Lifeson, pois o que ele faz em "La Villa Strangiato" é algo memorável. Certamente é um guitarrista muito a frente do seu tempo, com belas frases de guitarra que me emocionam muito.

Hemispheres é um disco que tem que ser ouvido com cuidado. Se você não gosta de músicas longas, eu sinceramente não recomendo. Aos amantes de viagens instrumentais fica aqui um excelente disco a ser ouvido. Certamente um clássico.
Material Bônus:

Eu sou o tipo de pessoa que curte fugir do senso comum. Então vou colocar daqui pra frente cinco vídeos de músicas que eu acho essenciais para quem quer ouvir Rush e ir além dos grandes sucessos como Tom Sawyer, YYZ, Fly by night e etc.

1 - "The Manhattan Project": Talvez a minha preferida do Rush. A música fala exatamente sobre a construção da bomba atômica e como ela mudou o curso do mundo pós - 1945. Esse vídeo é do registro de Show of Hands de 1988, mas a música tá presente no álbum Power Windows de 1985. Que por curiosidade foi eleita a capa mais intrigante da história do Rock numas dessas eleições caóticas que rolam por aí mundo afora.


2 - "Bravado": Essa música tá entre uma das músicas que eu mais escutei quando estive inteiramente perdido. A ideia é uma mensagem motivacional de que você não deve desistir por mais que a vida lhe coloque obstáculos. É uma música bem simples para os padrões do Rush, com baixo marcando e solo de guitarra pra lá de emocionante. Ela tá presente no álbum "Roll the Bones" de 1991. O vídeo é do DVD de aniversário de 30 anos da banda:


3 - "Roll the Bones": Lembram do que eu falei que Neil escreve uma música que não acredita em destino? Olha ela aqui. Essa música é demais do ponto de vista filosófico. Olha que frase bonita: "Destino é o peso das circunstâncias". Ou seja, tudo que acontece na sua vida está condicionado diretamente com a sua relação com o mundo e como você age diante dele. Essa também faz parte do Roll the Bones de 1991:

4 - "The Pass": No disco Presto de 1989, Neil escreve uma música pra lá de intrigante. Que descreveria ele perfeitamente diante do que viria passar em meados da década de 1990. Pra quem não sabe. em menos de seis meses, Neil perdeu a esposa e a filha em decorrência de câncer e acidente de carro respectivamente. A música tenta passar isso. A ideia de que inevitavelmente a vida vai te derrubar e que você tem que saber lidar com as possíveis quedas no meio do caminho. O vídeo que aí veremos, é de um show que o Rush fez no maracanã em 2002 e eu tava lá. Só para constar, tudo bem? Um momento histórico. a primeira vez da banda no Brasil e o público cantando todas elas em coro.

5 - "Secret Touch": Após anos sem lançar um trabalho de inéditas, em 2002 a Banda retorna ao estúdio e grava "Vapor Trails" e Secret Touch é a música que fala dessa superação de Neil diante da perda da filha e da esposa. Ele se isolou do resto dos amigos de banda e foi viajar de moto pelo continente americano. A música fala do binômio amor e dor explícito na seguinte frase: "Você não pode quebrar as correntes. Não existe amor sem dor. Uma mão gentil e um toque secreto no seu coração". A mão gentil em questão é a mão da nova esposa de Neil. O link dessa música contém apenas o áudio.

Até a próxima, amigos.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Sade - Soldier of Love (2010)


Quem nunca ouviu uma rádio de motel, que atire primeira pedra. Pois é. Nove entre dez pessoas quando ouvem Sade, pensam em músicas para um ambiente mais íntimo. Também pudera. Uma carreira marcada por músicas que enfatizam a relação a dois, além do fato da atmosfera musical de suas músicas ao longo de sua carreira ajudarem perfeitamente as letras cantadas fazerem sentido.
Sade não é o tipo de cantora que grava muito, nem o tipo de cantora que depende tanto ou mais do que dela se diz nos jornais de música ou outros do que da própria música. Bem pelo contrário: os seus álbuns são recolhas de canções certeiras, e que falam por si só. Sade é uma das cantoras com um percurso mais individual e genuíno da música atual, e por isso mesmo com ela acontece algo que muitas vezes não acontece: a sua música permanece atemporal, porque as suas canções fazem o mesmo sentido em 2011 que faziam em nos anos 80.

Nascida na Nigéria, mas criada no Reino Unido, para onde foi viver com a sua mãe (britânica) quando esta se separou do seu pai (nigeriano). Cresceu ouvindo mestres do soul como Marvin Gaye, Curtis Mayfield e Donny Hathaway. Apesar dessas influências e mesmo ouvindo no período de sua adolescência, não decidiu dedicar sua vida à música. Tanto que estudou desenho de moda na faculdade. Porém, logo descobriu que o mundo da moda não lhe permitia um bom equilíbrio entre o gosto de criar e a necessidade de ganhar a vida.
Descobriu o seu talento musical quando aderiu a uma banda formada por alguns dos seus amigos de colégio. Rapidamente passou a ser a vocalista de uma banda de funk latino chamada Pride. Ganhou gosto por escrever música (foi nesta fase que escreveu o êxito Smooth Operator). Aos 24 anos Helen assumiu-se como elemento central de uma nova banda, Sade, formada por si e por elementos da então extinta Pride - Stuart Matthewman(guitarra e sax), Andrew Hale(teclados) e Paul Spencer Denman (Baixo).
"Soldier Of Love", lançado no ano passado,(Soube que ela tinha lançado cd novo indo pra faculdade num dia chuvoso na radio do ônibus) vem pôr fim a dez anos sem músicas inéditas. Perante isto, é evidente perguntar-se de Sade precisou de um tempo para assimilar o seu percurso 1984-2000, de que "Lovers Live" vem dar um perfeitíssimo testemunho. Poderá ter sido esse o caso.
O álbum abre com "To The Moon and the Sky", que será talvez a canção mais ancorada no passado. No entanto, não há motivo para alarme, porque se segue a canção "Soldier of Love", que nos vem mostrar exatamente em que consiste o som do álbum a que dá título: por um lado nota-se ainda a atmosfera que representa a identidade musical de Sade, mas algo mudou: há nestas canções algo de selvagem, de animal, porque nunca como agora a sua música soou a algo exótico, mas muito interiorizado, muito humano, muito sincero. Há na maioria das canções beats com ritmos muito demarcados, mas não o tipo de beats a que estamos habituados que chamam pela dança: estes ritmos vão mais longe, chamam pelo próprio corpo, pelo movimento, como se traduzissem essa linguagem corporal: daí que diga que estas canções têm algo de profundamente humano. São canções que parecem tornar claros os elementos do desejo. Outros exemplos perfeitos do que acabo de escrever serão canções como "Bring Me Home" ou "Long Hard Road". Nesta última, é de notar como essa "animalidade" pode inclusivamente fazer-se ouvir nas canções mais melancólicas, e "Long Hard Road" será eventualmente a mais melancólica de "Soldier of Love". E se já no passado ouvimos Sade em canções tristes, não ouvimos agora os belíssimos lamentos, como por exemplo "Jezebel": é já outra coisa, mais natural, numa postura precisamente de "guerreiro", e não esqueçamos que na canção que dá título ao disco Sade se assume como um soldado do amor. Outro exemplo de uma pungente melancolia é a canção que termina o álbum, "The Safest Place": uma história do amor que põe fim ao deserto, construida com pouco mais que uma guitarra, um contrabaixo e arranjos de cordas.
 Canções como "Babyfather" ou "Be That Easy" podem, a uma primeira audição, parecer gerar uma espécie de desequilíbrio na dinâmica do disco: não por serem más canções, mas por nos soarem familiares. No entanto, desengane-se quem pensa ouvir aqui novas versões de músicas como "By Your Side": estas canções instauram uma espécie de "modernidade" da música de Sade: trata-se de pensar um pouco "outside the box": com pequenos arranjos electrónicos, de onde transpira uma espécie de alegria. Serão no entanto as canções menos interessantes do disco.
De notar são ainda os arranjos, complexos, e no entanto construidos com base em pouco mais que guitarra-bateria-baixo-saxofone-cordas. Ouçam "In Another Time" ou "Skin" para o confirmar: são canções em que os arranjos constituem uma parte indispensável da melodia, e no entanto, Sade não se moveu do esquema habitual das suas canções. Mas penso que é isso que acontece quando realmente se conquistou o poder de escolher o que se quer: trabalha-se da forma mais confortável sem que as canções resultem menos criativas por isso: o minimalismo não é uma limitação aqui. "Soldier of Love" também não contribui para que se possa fazer aquilo que até agora ainda não foi possível fazer: catalogar a música de Sade.
De fato, um pouco como acontece com todos os álbuns passados, se quisermos classificar "Soldier Of Love" seremos obrigados a uma série de palavras separadas por barras. Algo assim: jazz/soul/ r&b/ sexy-hip-hop/blues/smooth jazz/classic pop/new-age (...) etc, etc, etc. No fundo, isso só favorece a cantora. É um fato: Sade está definitivamente dentro do seu estilo, daí não a podermos incluir num género ou numa tendência. Justamente pela sua atemporalidade que eu comentei anteriormente.
Por último, penso que é importante perceber que o fato de, em 26 anos, Sade ter apenas seis álbuns de originais só a favorece: isto porque cada vez mais se percebe que o que Sade grava é apenas o essencial, de maneira que no seu percurso não há "palha". Talvez por isso mesmo "Soldier of Love" é mais um triunfo para o percurso de Sade, mais um álbum certeiro que convém ouvir repetidamente.
Este disco não é indicado aos adeptos da pentada violenta na hora da intimidade. é a minha única ressalva.
Até a próxima!
Segue o link para download: http://www.megaupload.com/?d=3YBBQA06

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Discos Históricos: Tim Maia - Racional



Fico pensando hoje em dia quando vejo Rodolfo (Ex-Raimundos), Mara Maravilha, Gretchen e Waguinho (Alguém lembra da mina de fé?) onde isso teve uma possível origem? Eu lembrei do Tim Maia.
Creio que posso dividir o Tim Maia em três fases: Síndico, Racional e Síndico. Eu explico:
Quando o Tim se tornou síndico pela primeira vez, ele se destacou por ter uma vida pessoal confundida com a profissional. Entrava no palco muitas vezes drogado, e sempre muito exigente com a parte técnica (Ele era um similar do James Brown. exigindo mais retorno dos técnicos de som, quando o som não estava lá essas coisas. Até mesmo chegando abandonar alguns shows). Tim também era um ateu confesso, até quando um dia na casa de um amigo chamado Tibério Gaspar, entrou em contato com o Livro: O Universo em desencanto. Após entrar em contato com a leitura desse livro, o cantor foi levado pelo mesmo amigo para a Baixada Fluminense, no intuíto de conhecer o líder da seita Racional Manoel Jacintho Coelho. O homem conhecido como Sacerdote do Racional Superior, que psicografava os livros do Universo em desencanto.
Após um sumiço (levando em consideração que havia um disco em estágio de produção) Tim Maia retornou totalmente conectado com as ideias do Racional superior, retratado no disco que eu vou falar agora:






Racional é um disco muito cultuado. Se perguntar pra 9 entre 10 críticos de musicais qual seria um dos discos mais curiosos da MPB, Racional estaria nesta possível lista. Confesso que fui apresentado a esse disco em uma época muito estranha da minha vida. Estava eu mergulhando na soul music e um amigo que tinha ele em vinil, me colocou pra ouvir. Ele me contou as histórias mais estranhas, como a de que o Tim Maia teria convertido a banda toda e comprado móveis e eletrodomésticos brancos pra sua casa. Além do fato da primeira aparição em um programa da globo onde todos vestidos de branco causaram espanto aos telespectadores. Nesse momento Tim Maia surgia como um arauto de uma voz superior e renegando todo os seus hábitos do passado. Como Nelson Motta mesmo diz: "Tim Maia abandonou o triatlo: Cocaína, Uísque e Maconha" e fez um disco notável pra história da MPB.
Vale ressaltar que, mesmo estando mais "calmo", O velho Tim ainda teve histórias bem bizarras que Nelson Motta retratou no seu livro sobre a vida de Tim Maia: Quando Tim e Raul seixas discutiram sobre a cocaína no corredor do prédio em que moravam, Raul fazia apologia ao uso da cocaína e Tim Maia lançou a seguinte frase:  “Tu toma cuidado, hein, magrelo. Nego cheira cocaína e fica logo com vontade de dar o cu, cocaína afrouxa o brioco, mermão!”

E uma segunda história envolvendo James Brown, Curtis mayfield e John Lennon. Quando enviou os livros do universo em desencanto  para os três. Afirmou que mesmo em Portugês, o Racional Superior se encarregaria de fazê-los entender a doutrina.

Ou não. Tim acabou mandando também LP e livro para John Lennon, mas recebeu como resposta uma foto do ex-Beattle inteiramente nu, com um bilhete:

Dear freak,
I don’t understand Portuguese. What about LISTEN to this photo?
John Lennon”

Tim ficou possesso. Disse que no jornal que o Racional Superior tinha dado só mais nove anos de vida a Lennon, que estava marcado para morrer em 1984. Só esqueceu de avisar ao manolo que largou uns tiros nele.

Vamos ao disco: 
Racional nada mais é do que um proselitismo, convocando o ouvinte a integrar a seita que o cantor fazia parte na época. As letras não passam de uma tentativa de lavagem cerebral (sim, acho que Edir Macedo, Malafaia e afins tem um pouco dessas ideias extraídas daí) na tentativa de convocar o ouvinte para aquele mundo "Racional".

Musicalmente falando (Acho que ainda não comentei que sou baixista e a minha admiração pela Black Music, né? Fica pra outro post.) O disco na minha opinião é o mais consistente, com linhas de baixo sempre muito precisas e suingadas, além da voz inconfundível e cheia de malemolência do Velho Tim.
Se o espírito do Tim Maia arruaceiro estava adormecido, sua técnica inevitavelmente ficou mais apurada durante Racional. Destaco o Volume 1 e o Volume 2, pois o terceiro volume foi apenas um apanhado de gravações não terminadas e sinceramente acho inconsistente. No volume 1 eu destaco as faixas: Que beleza, Bom senso e Leia o livro universo em desencanto. (Se acostume com essa frase, ele fala elao disco todo, até em inglês). No Volume 2, fico apenas com: O Caminho do Bem (Lembra da música no final do filme Cidade de Deus?).

Enfim, após essa digressão, Tim Maia abandonou a seita Racional, vendo que fazia shows restritos apenas para pessoas da seita e viu consistentemente suas somas em dinheiro sendo diminuidas enquanto Manoel Jacintho somava generosas quantias em dinheiro. reza a lenda que no dia em que abandonou a seita, Tim Maia tomou um porre de uísque e gritou ao mundo que Manoel Jacintho era um charlatão, pilantra, safado e bandido. O cantor voltou então a ser o síndico até a sua morte em 1998. Eu considero Tim Maia uma espécie de Darth Vader da MPB. Ele era dotado de um baita talento, migrando do lado bom para o lado negativo da força e voltando para o lado bom (analogia bem gordinho nerd).

Resumindo, indico esse disco a todos aqueles que querem ouvir o que pode ter sido o início de discos com temática religiosa na MPB. Pelo amor de Deus! não ouçam Racional achando que é um disco fácil de ouvir, pois não é. Em muitos momentos parece que você está sendo convertido aos poucos. Esse disco é indicado pra quem tem suas convicções religiosas bem firmadas.

Segue Link para download:

Racional Volume 1 - http://www.megaupload.com/?d=OWO01ERP

Racional Volume 2 - http://www.megaupload.com/?d=QPS3XSSZ

Até a próxima, após o carnaval
Ramon

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Saudações

Esse é o meu primeiro post e o objetivo desse blog é justamente postar albuns de gêneros musicais nem sempre alinhados. O objetivo maior é falar de música, independente do estilo. Semanalmente vou postar discos do meu acervo, procurando ao fim de cada mês colocar um disco clássico para história da música.

Sendo assim, vou começar as atividades com um disco de certa forma injustiçada, mas bem interessante: A Momentary Lapse of Reason do Pink Floyd:



Após o fim da Era Roger Waters em 1985, o Pink Floyd lançou A momentary Lapse of Reason. Um disco acusado pelos críticos de ter menos substância do que os discos da fase com Waters no comando. Na minha humilde opinião é um bom disco, aquém das grandes obras que o Pink Floyd lançou. Analisando friamente, é um disco com um apelo mais técnico do que os outros discos do Pink Floyd, David Gilmour em entrevistas na época dizia que precisava fazer esse álbum para que Nick Mason e Rick Wright recuperassem a auto-estima desgastada pelos tempos de convivência com Waters, que na mesma época disse que A Momentary Lapse of Reason não passava de um nome soberbo para um disco do dito Pink Floyd (Vale lembrar que nesse momento, Waters tinha perdido na justiça o direito sobre a franquia Pink Floyd).

O álbum em questão, chegou a ficar em terceiro lugar de vendas no Reino Unido e nos EUA. O que não foi um fracasso, levando-se em consideração o histórico da banda. As faixas que ganharam mais destaque na época foram: Learning to Fly e On the Turning way. Contudo, além dessas, vale a conferida em mais três faixas, que são One Slip, Dogs of War e Sorrow.

A momentary é um bom disco para você escutar em momentos mais introspectivos, ou seja, não tente a proeza de ouvir esse disco com a sua namorada, fazer isso seria decretar o fim do seu relacionamento.

Fica a dica.

Segue o link para baixar:


http://www.megaupload.com/?d=UY0VDW4R

Até a próxima.