sábado, 2 de abril de 2011

Discos Pessoais: Rush - Hemispheres (1978)

Após um recesso forçado. Tô voltando a postar aqui só pra vocês não acharem que eu larguei de mão. A ideia agora vai ficar um pouco diferente. Quero postar uma sequência de discos que foram vitais para a minha formação musical como baixista (sim, eu preciso tocar nesse assunto). É uma questão de ego retraída por algum tempo. 

Pra começar com a história toda, eu tenho uma lista de Baixistas e Bandas que me guiam filosoficamente ou musicalmente falando. Hoje vou apresentar para vocês o Rush. Uma Banda que me guia nos dois aspectos citados anteriormente. Falar desse Trio Canadense, talvez seja chover no molhado e exatamente para me desviar do senso comum das pessoas que gostam de música como um todo, vou contar um pouco da história deles, postar um disco e mais cinco vídeos com músicas obrigatórias do Rush. 

Formado em finais da década de 1960, mais precisamente em 1968. Inicialmente era formado por Jeff Jones (Baixo e Vocal), Alex Lifeson (Guitarra) e John Rutsey (Bateria). Ainda em 1968, Geddy Lee (Baixo , Teclado e vocal) assume o lugar de Jeff Jones e a banda começa a compor seu trabalho autoral. Devo confessar que sou um fã confesso do Geddy Lee. A sua voz não é lá das mais belas de serem ouvidas, mas seu talento com os baixo sempre me chamou a atenção e o fato dele programar linhas de teclado ao mesmo tempo em que toca o contrabaixo. Eu devia ter uns 11 anos quando olhei pra ele tocando e fiquei maluco. Sting (Baixista e vocalista do The Police) e John Paul Jones (Baixista do Led Zeppelin) me mostraram como um baixista cria linhas consistentes. Quando eu penso no Geddy Lee, penso que ele me mostrou como ser consistente e rápido, além de fazer linhas extremamente complexas com o baixo e cantar ao mesmo tempo. 

Em 1974 Rutsey saiu da banda antes de começarem a primeira turnê. Foi o momento mais importante para o rush, pois com a entrada de Neil Peart as letras e sessões ritmicas foram valorizadas. Neil começa a escrever as letras que vão ser emblemáticas para a banda. Neil é um excelente letrista. Ele consegue sintetizar seu lado sensível diante do mundo em que vive, tanto em letras que falam da sua personalidade (Ouça Limelight: Neil explica nessa música o quanto a fama lhe deixa incomodado). Subdivisions, que é outro clássico da banda, fala da forma em que você condiciona seu comportamento para ser incluído em algum grupo social (Neil era um nerd no total conceito do que a palavra pode ser entendida).

Para ter uma ideia de como Neil é um compositor versátil, no Álbum 2112 é dedicado ao livro: "A nascente" de Ayn Rand. Uma filósofa Liberal do século XX. Além da década de 80 Neil escrever composições de natureza política, criticando a guerra de um modo geral (Dois terços dos membros tem alguma ligação com os fatos ocorridos na segunda guerra mundial, Geddy Lee e Alex Lifeson são filhos de refugiados dos conflitos ocorridos na Europa). Composições como: War Paint, Red Sector A, Manhattan Project são reflexos de como isso incomoda de certa forma os integrantes da banda. Essas canções foram lançadas como forma de protesto durante a Guerra Fria. Quando ouvi 2112 ficava curioso para saber do que se tratava o livro de Ayn Rand. Confesso que não é um livro fácil de ser lido e que não sei se leria novamente.

O disco que vou falar hoje especificamente é o Hemispheres de 1978 - Tenho ele em vinil aqui em casa só para desespero dos xiitas por Rush. Na ordem discográfica do Rush, Hemispheres vem logo em seguida a  "A Farewell to Kings" de 1977. Hemispheres marca o fim das longas suítes na carreira do Rush. Daqui pra frente haverá uma abordagem sonora bem nos moldes da New wave ou Sinthpop, não havendo nenhuma perda na complexidade das músicas. As músicas serão apenas mais objetivas e com abordagem menos "experimental" e mais pop.

Hemispheres é um disco simples de ser falado. Tem "apenas" quatro faixas (Aviso logo que se você não tem paciência para músicas longas e com grandes trechos instrumentais nem tente ouvir a primeira e a última faixa). É preciso ter paciência para entender o que tá acontecendo no disco que eu vou enumerar as faixas a seguir: 

01 - Cygnus X-1 Book II: Hemispheres (18:05)
  • I. "Prelude" - 4:27
  • II. "Apollo: Bringer of Wisdom" - 2:36
  • III. "Dionysus: Bringer of Love" - 2:00
  • IV. "Armageddon: The Battle of Heart and Mind" - 2:55
  • V. "Cygnus: Bringer of Balance" - 5:01
  • VI. "The Sphere: A Kind of Dream" - 1:02
02 - Circumstances (03:41)
03 - The Trees (04:46)
04 - "La Villa Strangiato (An Exercise In Self-Indulgence)" - 9:36
  • I. "Buenos Nochas, Mein Froinds!" - 0:27
  • II. "To sleep, perchance to dream..." - 1:33
  • III. "Strangiato Theme" - 1:16
  • IV. "A Lerxst in Wonderland" - 2:27
  • V. "Monsters!" - 0:26
  • VI. "The Ghost of the Aragon" - 0:36
  • VII. "Danforth and Pape" - 1:41
  • VIII. "The Waltz of the Shreves" - 0:26
  • IX. "Never turn your back onMonster!" - 0:11
  • X. "Monsters!" (Reprise) - 0:14
  • XI. "Strangiato Theme" (Reprise) - 1:04
  • XII. "A Farewell to Things" - 0:15

A primeira faixa: Cygnus X-1 Book II é a continuação da última faixa do disco "A Farewell to Kings" (Acho que o Dream Theater faz coisas semelhantes hoje. Fica a dica) A grande sacada dessa faixa é a dicotomia razão e emoção, amor e guerra. Entenda como quiser, mas o fato é que Neil quis deixar claro que como seres humanos a razão vai tentar suplantar as nossas emoções, mas a nossa condição humana não permite que sejamos suplantados pela razão, embora nossas emoções nos levem a comportamento nem sempre explicáveis.

Circumstances, a segunda faixa do disco trata sobre como o comportamento humano diante dos fatos que nos são apresentados e como as nossas reações provocam uma mudança no nosso destino. destino esse que anos mais tarde, Neil Peart vai dizer que não existe nos versos de Roll the Bones.

The Trees é a música que me fez prestar atenção em Geddy Lee no Baixo. na primeira parte instrumental da música, existe um baixo marcante, que assim que eu aprendi a tocar esse mini-solo eu não queria saber de tocar outra coisa. É uma música cheia de metáforas falando da fuga de animais da floresta, que quando eu interpreto ela, entendo como os refugiados da guerra na Europa.

Finalmente, chegamos em "La Villa Strangiato". Eu me orgulho profundamente desssa ter sido a primeira música do Rush que aprendi a tocar no contrabaixo. A música é um tema instrumental bem interessante, cheio de passagens complexas, mudanças para compassos compostos e fraseados de guitarra que vão aumentando conforme a intensidade da música vai pedindo. Sempre fico muito contrariado quando menosprezam Alex Lifeson, pois o que ele faz em "La Villa Strangiato" é algo memorável. Certamente é um guitarrista muito a frente do seu tempo, com belas frases de guitarra que me emocionam muito.

Hemispheres é um disco que tem que ser ouvido com cuidado. Se você não gosta de músicas longas, eu sinceramente não recomendo. Aos amantes de viagens instrumentais fica aqui um excelente disco a ser ouvido. Certamente um clássico.
Material Bônus:

Eu sou o tipo de pessoa que curte fugir do senso comum. Então vou colocar daqui pra frente cinco vídeos de músicas que eu acho essenciais para quem quer ouvir Rush e ir além dos grandes sucessos como Tom Sawyer, YYZ, Fly by night e etc.

1 - "The Manhattan Project": Talvez a minha preferida do Rush. A música fala exatamente sobre a construção da bomba atômica e como ela mudou o curso do mundo pós - 1945. Esse vídeo é do registro de Show of Hands de 1988, mas a música tá presente no álbum Power Windows de 1985. Que por curiosidade foi eleita a capa mais intrigante da história do Rock numas dessas eleições caóticas que rolam por aí mundo afora.


2 - "Bravado": Essa música tá entre uma das músicas que eu mais escutei quando estive inteiramente perdido. A ideia é uma mensagem motivacional de que você não deve desistir por mais que a vida lhe coloque obstáculos. É uma música bem simples para os padrões do Rush, com baixo marcando e solo de guitarra pra lá de emocionante. Ela tá presente no álbum "Roll the Bones" de 1991. O vídeo é do DVD de aniversário de 30 anos da banda:


3 - "Roll the Bones": Lembram do que eu falei que Neil escreve uma música que não acredita em destino? Olha ela aqui. Essa música é demais do ponto de vista filosófico. Olha que frase bonita: "Destino é o peso das circunstâncias". Ou seja, tudo que acontece na sua vida está condicionado diretamente com a sua relação com o mundo e como você age diante dele. Essa também faz parte do Roll the Bones de 1991:

4 - "The Pass": No disco Presto de 1989, Neil escreve uma música pra lá de intrigante. Que descreveria ele perfeitamente diante do que viria passar em meados da década de 1990. Pra quem não sabe. em menos de seis meses, Neil perdeu a esposa e a filha em decorrência de câncer e acidente de carro respectivamente. A música tenta passar isso. A ideia de que inevitavelmente a vida vai te derrubar e que você tem que saber lidar com as possíveis quedas no meio do caminho. O vídeo que aí veremos, é de um show que o Rush fez no maracanã em 2002 e eu tava lá. Só para constar, tudo bem? Um momento histórico. a primeira vez da banda no Brasil e o público cantando todas elas em coro.

5 - "Secret Touch": Após anos sem lançar um trabalho de inéditas, em 2002 a Banda retorna ao estúdio e grava "Vapor Trails" e Secret Touch é a música que fala dessa superação de Neil diante da perda da filha e da esposa. Ele se isolou do resto dos amigos de banda e foi viajar de moto pelo continente americano. A música fala do binômio amor e dor explícito na seguinte frase: "Você não pode quebrar as correntes. Não existe amor sem dor. Uma mão gentil e um toque secreto no seu coração". A mão gentil em questão é a mão da nova esposa de Neil. O link dessa música contém apenas o áudio.

Até a próxima, amigos.